Escrito por Texto: Eunice Guerreiro, ilustração: Lucy Pepper
Terça, 03 Setembro 2013
Artigo retirado da Revista Pais & Filhos
As duas casas da Matilde
Naquela manhã, o sol brilhava intensamente e incidia diretamente na toca da coelha Matilde. Lá dentro, Matilde comia apressadamente o seu pequeno-almoço, pois eram já horas de ir a correr e a saltitar para a escola. Não gostava de se atrasar, pois a professora Cassandra, a coruja, olhava sempre de soslaio para aqueles que chegavam depois da aula começar. E em seguida emitia um som de desagrado: hummm… Porém, apesar da pressa, Matilde ficou mais alguns momentos ali na cozinha da toca, ouvindo o papá e a mamã que, no quarto ao lado, falavam alto e pareciam zangados um com o outro. ‘O que será agora?...’ pensava Matilde, sentindo que o sol lá fora já não brilhava tão intensamente e perdendo a vontade de saltitar… apesar da pressa.
Aquele dia na escola foi muito interessante. A professora organizou os alunos em grupos de trabalho e deu-lhes um tema sobre o qual teriam que elaborar um texto para apresentar depois à turma. O tema era ‘A família’. No grupo da Matilde estavam a tartaruga Joaquina e o pardal Tomás.
– Bem, eu acho que a família é feita daqueles com quem vivemos… – disse a tartaruga Joaquina docemente – Eu vivo com a mamã, o papá e o mano.
– Não é sempre assim – respondeu o pardal Tomás, de penas arrebitadas e olhar vivaço –Eu por exemplo moro com a mamã e a avó, mas a minha família não são só elas! Também tenho o papá, embora não viva no mesmo ninho que eu!
– Ai é? –perguntou Matilde, pensativa – O teu papá mora longe?
– Não. Mora logo três árvores ao lado e vêmo-nos quase todos os dias. Hoje é ele que me vem buscar à escola e depois vamos praticar voos rasantes juntos! – respondeu entusiasmado o pardal Tomás, que adorava desportos radicais.
– Vá, vamos escrever o texto que já só temos dez minutos – alertou a tartaruga Joaquina, pegando no caderno e no lápis.
Matilde foi escolhida pelo grupo para ir ler o texto perante os colegas e a professora. Começou então:
Família é quem cuida, quem cozinha connosco um bolo de cenoura e chocolate, quem trata as feridas, quem dá colo.
Família é quem nos abraça, quem nos ouve e dá conselhos, quem nos aconchega os cobertores numa fria noite de inverno.
Família é quem ajuda com os trabalhos da escola, quem brinca connosco, quem nos ama.
Tanto a professora como os restantes alunos aplaudiram o texto da Matilde, da Joaquina e do Tomás.
As duas casas da Matilde
Naquela manhã, o sol brilhava intensamente e incidia diretamente na toca da coelha Matilde. Lá dentro, Matilde comia apressadamente o seu pequeno-almoço, pois eram já horas de ir a correr e a saltitar para a escola. Não gostava de se atrasar, pois a professora Cassandra, a coruja, olhava sempre de soslaio para aqueles que chegavam depois da aula começar. E em seguida emitia um som de desagrado: hummm… Porém, apesar da pressa, Matilde ficou mais alguns momentos ali na cozinha da toca, ouvindo o papá e a mamã que, no quarto ao lado, falavam alto e pareciam zangados um com o outro. ‘O que será agora?...’ pensava Matilde, sentindo que o sol lá fora já não brilhava tão intensamente e perdendo a vontade de saltitar… apesar da pressa.
Aquele dia na escola foi muito interessante. A professora organizou os alunos em grupos de trabalho e deu-lhes um tema sobre o qual teriam que elaborar um texto para apresentar depois à turma. O tema era ‘A família’. No grupo da Matilde estavam a tartaruga Joaquina e o pardal Tomás.
– Bem, eu acho que a família é feita daqueles com quem vivemos… – disse a tartaruga Joaquina docemente – Eu vivo com a mamã, o papá e o mano.
– Não é sempre assim – respondeu o pardal Tomás, de penas arrebitadas e olhar vivaço –Eu por exemplo moro com a mamã e a avó, mas a minha família não são só elas! Também tenho o papá, embora não viva no mesmo ninho que eu!
– Ai é? –perguntou Matilde, pensativa – O teu papá mora longe?
– Não. Mora logo três árvores ao lado e vêmo-nos quase todos os dias. Hoje é ele que me vem buscar à escola e depois vamos praticar voos rasantes juntos! – respondeu entusiasmado o pardal Tomás, que adorava desportos radicais.
– Vá, vamos escrever o texto que já só temos dez minutos – alertou a tartaruga Joaquina, pegando no caderno e no lápis.
Matilde foi escolhida pelo grupo para ir ler o texto perante os colegas e a professora. Começou então:
Família é quem cuida, quem cozinha connosco um bolo de cenoura e chocolate, quem trata as feridas, quem dá colo.
Família é quem nos abraça, quem nos ouve e dá conselhos, quem nos aconchega os cobertores numa fria noite de inverno.
Família é quem ajuda com os trabalhos da escola, quem brinca connosco, quem nos ama.
Tanto a professora como os restantes alunos aplaudiram o texto da Matilde, da Joaquina e do Tomás.
- Muito bem, meninos! É isso mesmo: as famílias podem ser muito diferentes, mas só assumem o nome ‘família’ quando têm as raízes que nos fazem crescer felizes.
Contente com o elogio da professora, Matilde correu de regresso a casa com vontade de contar ao papá e à mamã como tudo tinha corrido naquele dia na escola. Ao chegar, viu que os dois estavam sentados no sofá às riscas da sala-de-estar. Estavam silenciosos e aparentemente serenos, mas Matilde sentia que aquele não era um silêncio normal nem confortável. Não era o silêncio que surge quando queremos apenas ouvir a Natureza cantar lá fora. Nem era o silêncio que inunda a toca quando todos vão descansar. E também não era o silêncio que se impõe quando damos um abraço à mamã ou ao papá e tentamos guardá-lo na memória, fechando os olhos e apenas sentindo o perfume do amor que se solta. Não. Aquele era um silêncio que Matilde desconhecia e que trazia com ele uma novidade.
– Olá filhota. Senta-te aqui connosco. Temos uma coisa para te contar – começou a mamã, ajudando-a a tirar a mochila das costas.
Matilde sentou-se entre a mamã e o papá e aguardou.
– Bem, o que temos para te contar é que a mamã e o papá vão separar-se. Decidimos que não queremos mais viver juntos e, por isso, viveremos em casas diferentes –explicou o papá, tranquilo.
– Mas queremos que te lembres sempre, em todos os momentos, que o divórcio entre os pais não significa nunca o divórcio do pai ou da mãe contigo. Não existe divórcio entre pais e filhos. Essa é uma relação que nada nem ninguém pode cortar – continuou a mamã, acarinhando as compridas orelhas da Matilde.
Contente com o elogio da professora, Matilde correu de regresso a casa com vontade de contar ao papá e à mamã como tudo tinha corrido naquele dia na escola. Ao chegar, viu que os dois estavam sentados no sofá às riscas da sala-de-estar. Estavam silenciosos e aparentemente serenos, mas Matilde sentia que aquele não era um silêncio normal nem confortável. Não era o silêncio que surge quando queremos apenas ouvir a Natureza cantar lá fora. Nem era o silêncio que inunda a toca quando todos vão descansar. E também não era o silêncio que se impõe quando damos um abraço à mamã ou ao papá e tentamos guardá-lo na memória, fechando os olhos e apenas sentindo o perfume do amor que se solta. Não. Aquele era um silêncio que Matilde desconhecia e que trazia com ele uma novidade.
– Olá filhota. Senta-te aqui connosco. Temos uma coisa para te contar – começou a mamã, ajudando-a a tirar a mochila das costas.
Matilde sentou-se entre a mamã e o papá e aguardou.
– Bem, o que temos para te contar é que a mamã e o papá vão separar-se. Decidimos que não queremos mais viver juntos e, por isso, viveremos em casas diferentes –explicou o papá, tranquilo.
– Mas queremos que te lembres sempre, em todos os momentos, que o divórcio entre os pais não significa nunca o divórcio do pai ou da mãe contigo. Não existe divórcio entre pais e filhos. Essa é uma relação que nada nem ninguém pode cortar – continuou a mamã, acarinhando as compridas orelhas da Matilde.
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