quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Começar pelo princípio

Começar pelo princípio
Andreia Lobo 2010-09-15
As opiniões de António Barreto e Nuno Crato sobre questões-chave da educação e da democracia.
António Barreto e Nuno Crato dispensam apresentações. De áreas académicas e profissionais distintas, a Sociologia e a Matemática, os dois investigadores e professores encontram-se sob um denominador comum: a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS). António Barreto, como seu presidente. Nuno Crato como coordenador do seu projecto de educação.

Numa troca de ideias, por correio electrónico, o EDUCARE.PT juntou em entrevista as suas opiniões. Nuno Crato aguçou algumas "Questões-Chave da Educação" que serão debatidas num ciclo de conferências organizado pela FFMS, a decorrer de 11 de Outubro a 7 de Dezembro nas cidades de Coimbra, Faro, Porto e Lisboa.

Nesse ciclo de conferências, Fernando Savater será um dos oradores presente já que a sua obra O Valor de Ensinar serve de pano de fundo aos primeiros debates sobre políticas e escolhas educativas. "Será que têm sido sempre conscientes?", é a questão em foco. Mas muitos outros grandes nomes se juntam ao deste filósofo para debater outras questões relacionadas com as áreas-chave do currículo nacional: Matemática e Português. Ficamos a conhecer quem vai falar sobre o quê nas respostas de Nuno Crato, mas também o resumo do essencial da actividade educativa que, como diz o próprio, "é ensinar".

Com António Barreto "falámos" sobre o trabalho de democratização desenvolvido pela FFMS cuja notoriedade se tem marcado quer pela criação da PORDATA, a maior base de dados sobre o Portugal contemporâneo de acesso gratuito, quer pela publicação de uma colecção de ensaios de figuras de renome cuja particularidade assenta na ambição de que o custo (3,50 euros) e o acesso (os livros são vendidos em quiosques e supermercados) não constituam obstáculos à sua leitura. E assim, sem mais acrescentos, deixamos abaixo escrita uma boa quantidade de linhas, na certeza de que a sua leitura vai valer a pena.

Da educação...

EDUCARE.PT (E): A Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) propõe-se "promover e aprofundar o conhecimento da realidade portuguesa, procurando desse modo contribuir para o desenvolvimento da sociedade, o reforço dos direitos dos cidadãos e a melhoria das instituições públicas". O que entendem como sendo prioritário a melhorar na escola pública?

António Barreto (AB): A prioridade para mim (falo a título pessoal) é um novo princípio de organização. Só assim se criariam gradualmente os instrumentos pedagógicos e outros capazes de desenvolver e melhorar as escolas. Esse novo princípio reside na entrega às comunidades (autarquias municipais, freguesias, associações de pais, empresas locais, etc.) de todas as escolas do sistema de escolaridade obrigatória.

"...cada escola, cada região, cada comunidade é um caso!" (António Barreto)

O Ministério da Educação ficaria com algumas, poucas, responsabilidades globais e políticas (orçamento nacional, definição do currículo nacional, manutenção das condições de livre circulação de docentes e alunos e inspecção). As comunidades locais organizar-se-iam segundo as capacidades e possibilidades locais para assegurar a gestão da escola, o recrutamento de professores, a avaliação, a parte "livre" do currículo que completaria o currículo nacional, a ligação à sociedade, as actividades culturais e artísticas, os apoios sociais, a saúde, o desporto, a participação dos pais e das empresas, as obras, etc.

Este processo poderia demorar, para todo o pais, uma a duas décadas, por isso é prioritário e deveria começar já. Deveria ser abolido o modelo uniforme imposto superiormente. Além da autonomia escolar, deveria ser adoptado um princípio de "geometria" variável: cada escola, cada região, cada comunidade é um caso!

Há evidentemente muitos aspectos concretos e específicos, mais ou menos importantes, da sala de aulas ao manual e aos métodos. Mas nada faz sentido se esta questão prévia não for tratada. Porque só assim se poderão fazer reformas e melhoramentos variados e diversificados, segundo as necessidades de cada escola e com a colaboração dos pais, das associações, das empresas e dos autarcas.

Nuno Crato (NC): Resumiria numa ideia: a escola deve ensinar mais e melhor. Nos últimos anos, eu diria mesmo décadas, fizeram-se melhorias formais, alargou-se a escolaridade, introduziram-se meios computacionais, inventaram-se "competências", mas não se deu a atenção devida ao essencial, que é ensinar. É a isso que é preciso dar atenção e isso exige uma atenção muito grande aos conteúdos e uma atitude rigorosa na avaliação e exigente no ensino.

E: O ciclo de conferências "Questões-Chave da Educação" conta com a participação de figuras de destaque do panorama nacional e internacional. Enquanto coordenador do projecto de Educação da FFMS, Nuno Crato pode destacar alguns dos principais temas em debate e "falar" um pouco sobre o trabalho desenvolvido pelos respectivos oradores?

NC:
Os temas destas três conferências obedecem a uma lógica. Começa-se pelas orientações gerais - a figura central da primeira conferência é um filósofo -, vai-se depois à matemática e ao português, que são as duas áreas curriculares centrais no Ensino Básico. Para me concentrar na primeira conferência, saliento a reflexão filosófica de Fernando Savater sobre o ensino, reflexão de que o público português conhece já um pouco através da obra "O Valor de Ensinar", que está traduzida para português. Este filósofo irá falar sobre a importância e os fins essenciais da educação. E é bom que comecemos pelo princípio.

"Vou discutir, por exemplo, as ideias de que a motivação é um pressuposto inicial da aprendizagem..." (Nuno Crato)

Teremos também Ricardo Moreno Castillo, um professor de Matemática madrileno, que lecciona alunos do equivalente ao nosso Ensino Secundário, e que tem tido uma visão muito crítica sobre o ensino em Espanha. É um autor muito conhecido nesse país através de livros que foram aí bestsellers, tais como De la buena y de la mala educación.

Nas conferências seguintes trazemos cientistas e professores e é importante que o debate sobre o ensino em Portugal deixe de ser um debate exclusivamente ideológico e se conheça o que a ciência moderna trouxe à pedagogia e ao ensino em geral. Por exemplo, para falarmos da educação matemática trazemos Michel Fayol, um psicólogo francês que tem produzido estudos científicos muito valiosos sobre a maneira como se aprende matemática. Trazemos também Andrei Toom, um matemático russo com experiência de ensino em três continentes.

Finalmente, para falarmos do ensino da leitura, convidámos Roger Beard, que tem trabalhos de investigação muito importantes sobre a melhor maneira de aprender a ler e que colaborou no projecto de melhoria do ensino das primeiras letras em Inglaterra, projecto que teve um sucesso espectacular e que merece ser conhecido. Trazemos também a canadiana Linda Siegel, uma conhecida investigadora na mesma área.

E: Vai participar no debate "O Valor de Educar". Pode adiantar-nos algo quanto à sua intervenção sobre este tema?

NC:
Vou tentar caracterizar algumas ideias sobre educação em Portugal que têm sido dominantes e que devem ser repensadas, por não terem qualquer fundamento nos estudos científicos nem na experiência docente. Vou discutir, por exemplo, as ideias de que a motivação é um pressuposto inicial da aprendizagem, de que a compreensão crítica deve ser um objectivo primordial, que se opõe à memorização e ao treino, e de que o ensino se deve basear preferencialmente no contexto cultural ou vivencial dos alunos, rejeitando a generalização e a abstracção. Todas estas ideias têm sido difundidas como consensuais, mas não têm fundamento no que hoje se sabe sobre a aprendizagem.

"Queremos focar a nossa acção no que é, para nós, essencial: estudar, conhecer, divulgar e debater." (António Barreto)

E: Em relação aos temas do ciclo "O Valor de Educar", "Fazer contas ajuda a pensar?" e "Como se aprende a ler", é quase uma tentação perguntar se concorda que a aposta na educação passa pela valorização do trabalho docente e o investimento em áreas chave - como a Matemática e a Língua Portuguesa?

NC
: Os docentes são os agentes decisivos do ensino e têm sido menosprezados e desautorizados. A grande batalha da avaliação de professores foi um logro, pois pretendeu-se avaliar professores sem avaliar alunos. Acabou-se por criar uma guerra sem sentido. O Português e a Matemática, como disse atrás, são as duas áreas chave da formação dos alunos no Ensino Básico. Sobre isto parece haver um consenso formal, mas na realidade tem-se dado prioridade a tudo menos ao ensino rigoroso e exigente destas duas disciplinas.

...e da democracia

E: Nos estatutos da FFMS, que preside, há um aspecto curioso, define-se aquilo que a Fundação não faz. Porquê esta necessidade?

AB:
O objectivo desta cláusula (e artigo dos estatutos) é o de bem definir a missão da Fundação. Queremos focar a nossa acção no que é, para nós, essencial: estudar, conhecer, divulgar e debater. É uma maneira também de anunciar ao público o que fazemos e não fazemos, com o que não contribuímos para a criação de ilusões e de expectativas não fundadas.

Quando há alguns meios disponíveis, há várias tentações a evitar. Primeira: gastar em inutilidades, como sejam móveis, edifícios, obras de arte, "cosmética", etc. Segunda: fazer o que dá nas vistas e não o que é necessário. Terceira: tomar decisões casuísticas, por simpatia ou afinidade. Quarta: dispersar a acção e os meios, em vez de concentrar. Quinta: acorrer a quem pede, ceder às emoções e distribuir por misericórdia. Com isto, não critico quem faz outras coisas, nomeadamente beneficência. Apenas digo que cada um deve fazer aquilo para que existe, deve cumprir uma missão.

"Mesmo na vida pública ou política, é frequente discutirem-se ideias desconhecendo as realidades." (António Barreto)

E: Parece muito evidente que existe da parte dos constituintes da Fundação uma preocupação muito clara com a larga divulgação (de ideias) e com a participação (dos cidadãos). O facto de a colecção Ensaios ter livros a custar 3,50 euros e mesmo o facto de este ciclo de conferências estar, de certa forma, descentralizado, são exemplos dessa preocupação?

AB:
Nos princípios constitucionais da Fundação, o debate público e a discussão de ideias livres fazem parte dos objectivos centrais, tanto quanto o estudo e o conhecimento da sociedade. A FFMS deseja manter as regras académicas de rigor, independência e fundamentação, mas, como não é uma entidade académica, está de certo modo orientada para o debate e a participação. Queremos promover a expressão de pontos de vista livres, porque é isso que permite ou estimula a formação de opiniões livres.

No quadro dos problemas da divulgação, julgámos, com base em estudos que há muito circulam, que os livros e a informação em geral são, em Portugal, caros (relativamente ao poder de compra da população); e, por outro lado, inacessíveis, quer isto dizer que apenas uma reduzida percentagem de cidadãos frequenta as livrarias. Perante isto, a nossa decisão foi: imprimir grandes tiragens (pouco usuais na tradição ensaística portuguesa), fixar preços muito acessíveis (3,50 ? por um livro de cerca de 100 páginas) e levar os livros aos sítios frequentados por grande número de pessoas (supermercados, quiosques, cafés, etc.). Queremos saber se estes factores, o custo e o acesso, são ou não obstáculos à leitura e à difusão de ideias e conhecimentos. Os primeiros resultados são encorajantes. O primeiro volume está próximo dos 20 mil exemplares. Os volumes seguintes para lá caminham. Ainda é cedo para tirar conclusões, mas já há elementos que fazem reflectir. Dentro de um ano, com mais de 15 volumes editados, poderemos fazer um balanço.

E: A FFMS coloca ainda à disposição de qualquer utilizador uma base de dados do Portugal Contemporâneo, em http://www.pordata.pt/. Não há nada mais prático do que uma "boa" estatística?

AB:
Como é sabido, uma estatística pode sempre ser fonte de erro e de manipulação. Isso é verdade. Mas não há conhecimento sem uma base estatística séria. Uma estatística é um facto. E é importante considerar os factos para depois pensar e emitir opiniões. O conhecimento dos factos (que são uma parte da realidade) é uma condição de criação de saber. Não a única, mas uma condição essencial. Ora, em muitas sociedades (e Portugal é uma delas), há o velho hábito de discutir opiniões sem o conhecimento dos factos.

"É importante trabalhar com números e perceber o que os estudos de base científica, racional e empírica têm mostrado." (Nuno Crato)

Mesmo na vida pública ou política, é frequente discutirem-se ideias desconhecendo as realidades. Ou até fazerem-se leis sem saber previamente a quem dizem respeito, quanto custam, quem beneficiam e quem prejudicam. Foram considerações deste tipo que nos levaram à elaboração deste projecto (PORDATA): uma base de dados estatísticos que dê a toda a gente e em condições de acesso fáceis e livres a possibilidade de conhecer os factos, as estatísticas e os indicadores. Não esqueçamos, finalmente, que boas estatísticas são fonte de democracia, dado que permitem a divulgação do conhecimento. Para mim, os três pilares da liberdade são: o voto, o tribunal e a informação. Ora, a estatística é a parte formal e factual da informação.

NC: A questão é geral, mas deixe-me referir de novo o ensino. Os debates sobre educação no nosso país têm estado eivados de ideologia e de crenças infundadas no valor da "vivência dos alunos", da "autoconstrução" da aprendizagem, do "ensino em contexto", das actividades e das "investigações". Fala-se de progressos e de redução do abandono escolar, das vantagens da introdução de computadores e do aumento da escolaridade obrigatória. Mas conhecem-se pouco os dados. É importante trabalhar com números e perceber o que os estudos de base científica, racional e empírica têm mostrado.

As Escolhas de
António Barreto


Citação:
"Il n'ya pas d'amour heureux", L. Aragon
Livro:
L'oeuvre au noir, de Yourcenar
Música:
Ich habe genug, de J S Bach
Autor:
Stendhal
Político:
Lyndon Johnson
Viagem:
Sahara
Memória de infância:
O nascimento de um irmão
Sonho por realizar:
A viagem do Transiberiano (possível) e cantar Ópera (impossível)




As Escolhas de
Nuno Crato


Citação:
"Não se preocupem com as vossas dificuldades em matemática. Posso assegurar-vos que as minhas são ainda maiores", Einstein a falar a alunos do liceu
Livro:
Memorial de Aires, de Machado de Assis
Música:
Richard Strauss: Quatro últimas canções
Autor:
Philip Roth
Político:
W. Churchill
Viagem:
Pantanal, Brasil
Memória de infância:
Lagoa de Santo André
Sonho por realizar:
Ver o Olimpo

Fonte: http://www.educare.pt/educare/Actualidade.Noticia.aspx?contentid=90393CF40D81521CE0400A0AB8001D4F&opsel=1&channelid=0

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Quem sou deixa marca (Who I Am Makes a Difference)

Uma professora de Nova York decidiu honrar cada um de seus alunos que estavam por se graduar no colegio, falando-lhes da marca que cada um deles havia deixado.
Chamou cada um dos estudantes à frente da classe, um a um. Primeiro, contou a cada um como haviam deixado marca na vida dela e na da turma.
Logo presenteou cada um, com uma faixa azul, impressa com letras douradas, na qual se lia, “Quem sou deixa marca.”
Por fim, a mestra decidiu fazer um projeto de aula para ver o impacto que o reconhecimento teria na comunidade.
Deu a cada aluno mais três faixas azuis e lhes pediu que levassem adiante esta cerimônia de reconhecimento. E que deveriam acompanhar os resultados, ver quem premiou quem, e informar à turma no final de uma semana.
(excerto da transcrição da apresentação que se segue).

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Meus queridos alunos do 8.º A

O que falta então fazer? Como educadores, confrontar todos os dias os nossos alunos com a possibilidade dessa utopia, feita de afecto, paixão, persistência, trabalho e querer.
Num tempo, como o nosso, marcado pelo desalento e pela descrença, mais se justifica afirmar a escola pelo que ela pode e deve fazer de melhor: incutir nos jovens alunos a ânsia do saber, o prazer da descoberta, a alegria da partilha, o exercício da tolerância e da liberdade, a procura e concretização dos seus sonhos, a busca de um mundo melhor...
O que falta então fazer?
Como educadores, confrontar todos os dias os nossos alunos com a possibilidade dessa utopia, feita de afecto, paixão, persistência, trabalho e querer.


Meus queridos alunos do 8.º A

Termina hoje, por razões de calendário, a nossa ligação mais formal de aula.

É tempo de fazer um balanço, uma avaliação do que foi este nosso percurso.

À partida, deixem-me dizer-vos que em termos pessoais gostei de ser o vosso chefe-de-fila, em linguagem de ciclismo, ou o vosso capitão de equipa, para calar os futebolistas.

Se a escola se resumisse apenas a essa cumplicidade, a esses pequenos atrevimentos ou rebeldias, partilhadas ou censuradas, então sentir-me-ia o professor e o director de turma mais feliz do mundo. A esse nível tenho de reconhecer que todos cresceram e fizeram uma viagem mais madura, com alguns acidentes de percurso normais na vossa idade. Mas até aí sabem quanto exigi de todos. Cada um de nós só tem um destino: ser grande como pessoa, como ser humano. Só se pode ser grande pelo trabalho e pela exigência.

Sobretudo connosco. Foi aquilo que durante estes dois anos vos resumi em duas palavras: não facilitem.

Agora aqui chegados é tempo de cada um de nós responder a essa pergunta: Será que nunca facilitei?

Penso que vos consegui transmitir que a escola é sonho, é ousadia, é autonomia e crítica. Mas também vos falei no esforço, no suor, na vontade e no trabalho. A partir de pequenas/grandes coisas: pontualidade, assiduidade, trabalhos de casa, estudo... e querer.

Penso até que paira na vossa cabeça agora algum arrependimento por não terem feito tudo o que podiam/deviam. Como vos disse também o que ficou por fazer nesse tempo que é passado já não é recuperável e o pior é olharmos para ele como tempo perdido.

Olhem sempre de frente para o vosso futuro e construam-no com as vossas grandezas e dificuldades, não se lamentando, ou comparando com quem não faz ou faz ainda pior. Cada um de vós é responsável pelo que construir. E nesse esforço pode ser apenas vulgar ou ser um génio.

A escola é o lugar certo para criarem a vossa identidade a partir de saberes, de modelos e valores que vos são transmitidos por tanta gente: professores, alunos, funcionários... Não desperdicem nunca a possibilidade de saber mais, de ir sempre mais longe. Não tenham medo de errar, mas mostrem que a vossa ignorância não é fruto de não quererem saber, mas é resultado apenas da nossa limitação humana de não podermos saber tudo.

Façam da vossa vida um hino à liberdade, à tolerância, à lealdade aos outros, porque os outros são a nossa maior riqueza e todos têm algo para nos ensinar.

Não desistam diante da primeira dificuldade. Façam dela um exercício de paciência, que a vossa persistência e teimosia hão-de ajudar a vencer.

Não queiram ser heróis instantâneos, porque os heróis, a maior parte das vezes, são de papel ou são mera ilusão cinematográfica e publicitária.

Aprendam a saber resistir à facilidade, à moda, à opinião fácil. Prefiram o caminho mais difícil, porque é esse que melhor vos prepara para o futuro.

Façam da felicidade a pedra de toque da vossa vida e encham-na de cor e de alegria, espalhando à vossa volta o perfume da amizade. Resistam a reduzir a felicidade só ao prazer momentâneo, ao sim porque é mais fácil e encham-na da consciência do dever cumprido, que vos trará uma sensação boa de paz e de bem-estar, convosco e com os outros.

Não imagino se voltarei a palmilhar, como director de turma, outros percursos e outros caminhos convosco.

Sei que no livro da minha vida há já um capítulo escrito em que as personagens têm os vossos nomes todos. Sei que vou ter saudades vossas. Quando tal acontecer, abrirei o livro no capítulo que vocês todos escreveram na minha Vida. Oxalá tenha deixado também nas vossas vidas uma marca de saudade.

Um abraço do tamanho do Mundo! CARPE DIEM.

O director de turma: Acúrcio Domingos
Professor de Educação Moral e Religiosa Católica na Escola Secundária de Eça de Queirós
2010-06-21
Fonte: http://www.educare.pt/educare/Opiniao.Artigo.aspx?contentid=780611DECD3CD336E0400A0AB800255B&channelid=780611DECD3CD336E0400A0AB800255B&schemaid=&opsel=2

Alícia

Olhava para tudo e todos com a inquietude da novidade, esbugalhava os olhos enquanto chuchava no dedo e ria, ria sempre. Mas era um riso triste o de Alícia. Pior que o riso dela, só o silêncio: não falava com ninguém.
Foto@EPA/Stephen Morrison
(http://imgs.sapo.pt/gfx/445530.gif)


Sabia-nos bem o sol inesperado naquela manhã de Fevereiro e, por isso, ficámos à porta da escola conversando, enquantonão tocava. Foi então que a directora me disse:
- Vais ter uma nova aluna!
- Eu? Então a minha turma não estava bloqueada, com tantos miúdos com deficiência comprovada?!
- Pois, é verdade... Mas sabes como é: a Leonor e a Sónia têm turmas grandes...
- Está bem! Quem é? De onde vem?
- Há-de vir aí a tia para a trazer, chegou de Angola...

Não teve tempo para continuar, porque ali estavam, a menina e a tia, para iniciar o que seria a nova vida de Alícia. Quando a vi, estremeci. Muito pequenina e magrinha, não me pareceu que a minha turma, com alguns matulões de 12 e 13 anos, fosse o melhor grupo.

A tia falou, falou muito, contou tudo o que pôde no bocadinho que restava até ao toque de entrada: Alícia deixou mãe, pai e irmãos em Angola, agarrados a uma vida pobre de que dificilmente sairão. Ela, Roseta Kilombo, mandara vir a sobrinha-neta para lhe proporcionar uma vida melhor, mais calma pelo menos. Mulher de armas, a tia Roseta trabalhava desde muito cedo para sustentar os filhos e amparar amigos e vizinhos. Mais tarde vim a saber que era já quarentona, mas o riso fácil e o olhar, de tão vivo, iludiam a idade, guardando uma juventude que a dureza da vida não destruiu.

Alícia ficou connosco. Olhava para tudo e todos com a inquietude da novidade, esbugalhava os olhos enquanto chuchava no dedo e ria, ria sempre. Mas era um riso triste o de Alícia. Pior que o riso dela, só o silêncio: não falava com ninguém. Participava em todas as actividades, brincava e ria, mas não falava.

A pedido, lá veio a tia Roseta. Que não, que a menina não se queixava de nada. Que gostava de todos os colegas e da senhora professora também. Que ficara muito feliz com as lembranças que muitos lhe haviam trazido, à laia de boas-vindas. E, na verdade, não percebia esse caso estranho de a menina não falar ali na escola. Combinámos continuar ambas atentas e manter contacto estreito para a ajudar.

Um dia Alícia roubou o lugar ao Gelson, sentou-se a meu lado e ficou ali a trabalhar. Gelson, um malandrete à solta, tinha coração largo para os mais fracos e deixou-a ficar sem nada dizer. E Alícia encostou-se a mim. Empurrou-me devagar, devagarinho, até que a puxei para o colo. Abriu muito os olhos, mais brilhantes ainda na sua face negrinha, pôs o dedo na boca, semicerrou as pálpebras e, pouco depois, dormia.

O silêncio dos colegas, trabalhando com cuidado para a não acordar, foi, como em muitas outras ocasiões, prova da solidariedade, da alma generosa que crescia no peito destes meninos quase todos oriundos de um bairro de lata.

Quando tocou para a saída, Alícia acordou e começou a chorar. Desdobrámo-nos em cuidados à sua volta, ninguém percebia aquelas lágrimas... E a menina disse então a primeira palavra que pudemos ouvir-lhe, num lamento:
- Mãe!
Apertei-a mais contra mim. Quis ganhar tempo, não sabia que dizer-lhe, porque ninguém soube nunca consolar-me pela falta da minha mãe quando ela me deixou, menina ainda, para ir para o Céu em que eu queria acreditar. Que poderia eu dizer a uma pequenina de sete anos que sente saudades de sua mãe e a sabe do outro lado do mar?
Foram os colegas quem tentou salvar a situação:
- Todos gostam de ti, Alícia. Os teus primos, os colegas, os amigos todos. A tia Roseta trata-te tão bem...
- Mas a mãe dava colinho...

Desde então, Alícia fala muito e cada vez mais. O dia do colinho (melhor, o primeiro dia do colinho, porque muitos se lhe seguiram) marcou o nosso calendário: agora, tudo se divide entre antes e depois de Alícia falar.

Cristina Silveira de Carvalho
Professora do 1.º ciclo
2010-04-26
Fonte: http://www.educare.pt/educare/Opiniao.Artigo.aspx?contentid=7803CC2C1380DB46E0400A0AB8002557&opsel=2&channelid=0

O Ponto (Peter H. Reynolds)

Vashti diz que não sabe desenhar.

A professora acha que ela sabe.

A professora sabe que todos são capazes de criar.

Onde há um ponto, há um caminho...

“Faça uma marca e depois veja no que dá.”




Este vídeo foi produzido a partir do livro infantil "O Ponto" (Peter H. Reynolds)
e aborda a valorização da arte pessoal.

terça-feira, 27 de julho de 2010

CRIA (Centro de Reflexão, Intervenção e Aquisição)


O CRIA pretende constituir-se como um contributo para a resolução de problemas sentidos na escola ao nível da disciplina, da integração dos alunos e da promoção do sucesso escolar.
Neste sentido, um grupo de professores, em conjunto com a Direcção da ESA, organizou um dispositivo de coaching de que os alunos poderão beneficiar, com os objectivos já enunciados, e que apresentará as seguintes valências:
a) GRAC (Gabinete de Reflexão sobre Atitudes e Comportamentos) – receberá os alunos que saem da sala de aula por apresentarem comportamentos desadequados;
b) GIAC (Gabinete de Intervenção nas Atitudes e Comportamentos) – trabalhará com alunos com um perfil que indicia insucesso, por vezes repetido, e com comportamentos disruptivos persistentes;
c) GAC (Gabinete para Aquisição de Competências) – acompanhará alunos que evidenciam lacunas nas suas competências escolares (falta de hábitos e métodos de trabalho/estudo, dificuldades na interpretação de enunciados, na resolução de problemas, etc), que podem comprometer o seu sucesso educativo.